Por volta de duas décadas atrás eu tive meu primeiro contato com um jogo do gênero RPG, e foi o glorioso e fantástico Final Fantasy de Nintedinho, o primeirão, rodando num CD com 100 jogos de NES para PS1.
Apesar de sua simplicidade em comparação aos títulos de PS1 na época, como Gran Turismo 2, Crash, etc, havia algo naquele título que me cativou, algo que criou uma paixão incondicional em mim em relação a RPG's de turno, era diferente de tudo que eu já havia visto.
Não demorou muito para que, posteriormente, eu viesse a conhecer outros títulos semelhantes, como Chrono Trigger, Suikoden, Digimon World, Valkyrie Profile, entre outros, e cada vez mais se expandia essa paixão dentro de mim, eu simplesmente nunca consegui deixar de gostar ou enjoar do gênero, cada vez que eu conhecia algum título semelhante eu me encantava mais e mais pela grandiosidade dos universos que, eventualmente, eu explorara.
Mas meu gosto por RPG's não se limitou apenas aos de turno, com o tempo conheci diversos RPG's de ação que me encantaram do mesmo jeito, como Lord of Arcana, a saga The Elder Scrolls, Fallout, e, em meados de 2015, conheci a saga Tales of, sendo meu primeiro título de contato o Tales of Zestiria, onde acompanhamos a história de Sorey e sua turminha. Pouco tempo depois, vi o lançamento do que seria sua prequela, Tales of Berseria, que superou muito minhas expectativas de como taparia os buracos deixado em seu título anterior, e trazendo uma atmosfera um pouco sinistra em comparação a outros jogos que eu já havia jogado.
Após ter experimentado esses dois títulos, a saga Tales of ganhou minha atenção, pois foram títulos que me agradaram demais, apesar dos problemas que tinham, eles conseguiam me prender, seja pela história, pela gameplay peculiar, ou até mesmo pelo pós-game, que esticava em muitas dezenas de horas a jogatina.
Não se passou muito tempo, navegando na Microsoft Store de PC, acabei vendo Tales of Vesperia Definitive Edition em promoção, isso por volta de 2019~2020, e não pensei duas vezes, peguei na mesma hora e resolvi testar, e... Bom, podemos dizer que acabei começando com o pé errado, acabei quase encostando para sempre após 2 horas de jogo, eu simplesmente estava achando a jogabilidade dura demais, a história não estava tão interessante, e isso estava me desanimando, mas alguns dias depois eu resolvi tentar de novo, explorar com mais carinho e cuidado, tendo em mente que era um título, originalmente, de 2008, e poderia haver limitações técnicas, a jogabilidade já estava um pouco datada, mas decidi seguir em frente, e simplesmente foi uma das melhores experiências que eu tive com um jogo, eu amei demais os personagens e o enredo em torno do universo criado nesse jogo, consegui me adaptar a jogabilidade e me surpreendi o quanto ela evolui com adições de mecânicas no decorrer da história, e hoje ele é um dos meus RPG's favoritos de todos os tempos.
Não passou muito tempo, vi uma notícia sobre o que seria o futuro lançamento de Tales of Arise, lembro que tinha algumas imagens do jogo nela, se não me falha a memória era um novo trailer que saiu na época, ainda faltava uns meses para o lançamento oficial, mas lembro que o pouco que vi foi o suficiente para meu hype subir descontroladamente, estava muito inclinado a pegar na pré-venda.
O tempo foi passando, então foi divulgado a abertura ao som da música "Hibana", onde a animação estava linda e a música muito empolgante, meu coração berrou "Vai ser GOTY!", e algum tempo depois saiu a versão demonstrativa, logo baixei e instalei no meu XBOX Series S, e, após alguns minutos jogando, não precisei pensar duas vezes, foi pré-venda no mesmo dia. A jogabilidade, os gráficos, ambientação, tudo estava muito acima das minhas expectativas, e fiquei bem ansioso por seu lançamento desde então.
Faltando alguns dias, a Bandai lança um trailer com a música "Blue Moon" (Ayaka), e novamente meu coração berrou "Vai ser GOTY!". Era nítido o carinho com o qual aquele jogo havia sido feito, seja pelo que vi na demonstração, como nos trailers, imaginava que se tratava de algo cujo o investimento deveria ser inimaginável.
Então chegou o dia do lançamento, 9 de Setembro de 2021, mas só foi liberado para baixar na virada para o dia 10, uma sexta-feira, onde iniciei minha jornada as meia noite e fui jogando até 4h00 da manhã, só não continuei porque 9h00 eu deveria estar trabalhando, mas já sabia onde meu coração estaria.
Como trabalho com banco de dados e desenvolvimento, eu sabia que estaria um pouco tranquilo, pois há uma "lei" universal nesse ramo que é "Não farás deploy de sexta-feira", então a possibilidade de ter que estar apagando incêndio depois das 18h00 era mínima, e assim foi, 18h01 eu já estava voltando a explorar o fantástico universo dessa obra.
Na época eu havia pesquisado bastante sobre Tales of Arise, então eu sabia que eu poderia navegar no Youtube e acabar me deparando com algum vídeo onde teria spoiler na miniatura ou no título, e, por estar em grupos de jogos nas redes sociais, eu me vi obrigado a baixar extensões no
navegador que impedissem a visibilidade de postagens e vídeo com palavras chaves, mas isso só funcionaria no computador, e eu não queria ter que ficar me privando de navegar pelo celular, então tomei uma árdua decisão: Focar com todas as minhas forças na história principal. Mas não foi bem isso que aconteceu, eu acabei explorando bastante as missões secundárias, alguns chefes secundários, explorar o mapa, entre outras coisas, mas meu foco maior ainda era a linha de missões principais.
Na época eu estava passando por uma fase extremamente difícil, e quando eu sentava para jogar Tales of Arise eu simplesmente me esquecia dos problemas, se eu estava chateado, frustrado, ou tinha qualquer outro sentimento negativo, acabava por passar, e eu ficava feliz, era um jogo que me passava sentimentos e emoções positivas.
Antes de falar os pontos que me agradaram, preciso falar algo sobre mim: Se o jogo tem um enredo ruim, mas a jogabilidade é boa, logo eu vou gostar do jogo, afinal, eu passei parte da minha infância pulando os diálogos dos jogos porque eu não entendia muito inglês, e eu jogava com gosto porque a gameplay era o que me prendia, então, para mim, o enredo acaba não sendo um pilar significativo para determinar se um jogo é bom ou ruim.
Agora, falando dos pontos que me agradaram, obviamente vou começar pela jogabilidade, que de início pode ser um pouco frenética demais para algumas pessoas, pois apesar dela ser boa e fácil de aprender, a quantidade de informações na tela pode ser um tabu, principalmente na demonstração, onde você já poderia jogar contra inimigos razoavelmente fortes, com todos os personagens da party, e com a tela cheia de coisas acontecendo. Isso, no jogo completo, é mais "controlado", pois os elementos são introduzidos lentamente, a adição de personagens e, consequentemente, o acréscimo de informações do que acontece na tela vai aumentando gradativamente e num ritmo praticamente perfeito, possibilitando que você vá se adaptando com mais facilidade e mais conforto.
A possibilidade de combos e utilização de ars distintas em combates é um grande atrativo, as possibilidades são imensas, e não é difícil você testar as habilidades de cada personagem para montar a estratégia que melhor se adequa ao seu estilo de combate, por exemplo eu, deixo minha party na estratégia de lutar agressivamente, enquanto controlo a Shionne para administrar a cura conforme a necessidade, mas uso ela para atacar com ars específicas que melhor se encaixam no meu estilo de jogo quando vejo alguma abertura.
Em falar na Shionne, posso esticar um pouco para falar sobre o enredo do jogo e seu desenvolvimento ao longo das 35~45 horas de campanha, e não tenho como negar que eu simplesmente acho incrível como os universos dos Tales of são construídos, parecem que são pensados nos mínimos detalhes. Por exemplo, se você vê um NPC que usa uma camisa com um símbolo, pode ter certeza que aquele símbolo tem uma história por trás, pertence à algum clã que tem uma origem, seja importante ou não, dentro do universo do jogo, e, acima de tudo, acho genial como conseguem acertar quase sempre no final, como tudo se encaixa no final das contas, como deixam praticamente sem pontas soltas, e Tales of Arise não é uma exceção, ele segue esse ritmo, praticamente não deixando questionamentos e nem o jogador confuso, o que você quer saber sobre o universo do jogo é só explorar que você vai descobrir, praticamente tudo tem uma razão, um porquê de estar lá.
Apesar de achar que a construção dos personagens é mais interessante em Vesperia e Berseria, não deixa de ser interessante ver como o universo em Arise cria e demonstra as motivações dos personagens de sua equipe, o que faz cada um lutar pelo que está lutando, meu maior problema nesse tópico está nos laços que eles criam e desenvolvem entre si, não vou adentrar muito nos detalhes para evitar spoilers, mas é algo semelhante ao famoso "poder da amizade", muito comum em animações shounen, fazendo eu me questionar se o que eu estava vendo era algo forçado ou não, mas as esquetes (aqueles diálogos opcionais do grupo) e o fortalecimento de amizade nos acampamentos podem camuflar um pouco essa questão.
Assim como a história do jogo, outro aspecto que não é um pilar muito importante na hora de definir se um jogo é bom ou ruim, é a qualidade do gráfico, mas Arise fez eu me questionar se os gráficos importam para um jogo.
Enquanto estamos vendo boa parte dos lançamentos buscando o maior nível de realismo em quesito de gráficos, Arise buscou algo mais artístico, e é nítido que acertou em cheio. Sua ambientação, seus efeitos visuais, efeitos de luzes, são impecáveis, e sua performance (em um Series S) se casam perfeitamente. É um espetáculo audiovisual, se torna muito agradável aos olhos passear pelas paisagens, observar alguns ambientes, ou o uso de ars que possuem efeitos de partículas belíssimos durante alguma batalha.
Sua exploração também é extremamente interessante, pois o jogo não é mundo aberto, ele é um pouco linear com áreas razoavelmente grandes que podem ser exploradas, e, para mim, isso é um baita ponto positivo, o motivo? Simples, eu estou saturado de tantos jogos mundo aberto, que te desfocam do que você quer fazer no jogo, e também, muitas vezes que vou jogar algum jogo que é mundo aberto, eu acabo sentindo preguiça de jogar e já desligo, pois nem sempre é interessante o pensamento "Tá, e agora? O que vou fazer?" após carregar o jogo, não pela dúvida, mas pela indecisão mesmo e de sentir que as coisas acabam estando muito longe uma da outra, por isso vejo a linearidade de Tales of Arise como um ponto positivo, pois ela soube trazer uma boa dose de equilíbrio entre walking simulator e exploração de fato.
Quando eu gosto muito de um jogo, finalizar ele, por muitas vezes, acaba não sendo o suficiente, acabo ficando com o gostinho de "quero mais", por isso eu acho importante os jogos terem um pós-game interessante, ou algo que permita que o jogador possa revisitar sem ter que ficar apenas repetindo toda a campanha do zero, por exemplo Valkyrie Profile 2 Silmeria, possui um pós-game interessante, jogar o jogo novamente mas com um nível de dificuldade maior, baseado nos cristais que aparecem na tela de título, que vão aumentando a cada vez que você finaliza a campanha, então sempre haverá um desafio para aquele jogo, um motivo para revisitar, podendo passar, facilmente, das 1000 horas de jogo, ou seja, você pode jogar ele até ficar empapuçado que conteúdo nunca vai "faltar". A saga Tales of, pelo menos nos últimos títulos, possui um ótimo pós-game, onde, normalmente, estendem bastante a jogatina e se aprofundam um pouco mais no universo jogo, e eu esperava o mesmo em Tales of Arise, e ele cumpriu bem essa parte, mas não excedeu minhas expectativas, pois, nos outros títulos da franquia, eu passei fácil das 100 horas, mas em Arise concluí tudo com um pouco menos de 80 horas, onde eu já havia alcançado todas as conquistas do jogo, mas não foi por falta de conteúdo, mas sim pelo fato do jogo ser mais rápido, mais frenético, acaba que sendo muito mais rápido sua exploração, suas batalhas contra chefes secretos, entre outros fatores. Logo, com um pouco mais de 100 horas eu fiz o 100% absoluto do jogo na dificuldade Desconhecida (dificuldade máxima), onde eu consegui todos os itens, equipamentos, as esquetes acionadas, e todos os outros marcadores.
Concluindo, é um jogo espetacular, eu realmente amei ele, do começo ao fim, e mesmo após ter feito tudo na dificuldade máxima, eu não consegui enjoar ou cansar dele, e isso é um pouco incomum, normalmente encosto o jogo depois de finalizar a campanha.
Ele foi uma válvula de escape perfeita para mim e os problemas que me cercaram durante um período, me divertiu, me entreteve, me inspirou em diversos pontos, e, assim como uma pessoa pode se apaixonar por um livro, uma série, ou um filme, eu acabei me apaixonando por este jogo e seu universo, cujo qual fez jus ao hype que impus sobre ele, e adoraria esquecer completamente tudo sobre ele só pra ter a experiência de explorar ele novamente e sua sensação satisfatória e prazerosa.
Espero que tenham gostado dessa... pequena(?) análise.